Um conto de Lando


Ao chegarem na cidade baixa, Jamiel, Karnov e Lando foram para seus respectivos lares. Lando foi levando o conteiner consigo. Ao chegar em um beco que dava passagem para uma caverna, Lando ouve gemidos de dor no fundo. Pela voz, deveria ser uma mulher, mas era algo semelhante a um boneco de massinha, avermelhado, e com uma fumaça ao redor. Ao redor, muito sangue no chão.
Um rato passava ali perto, e ela o pegou. O rato derreteu em sua mão, e gritando.
- Lando, a dor é insuportável. Só encontro alívio quando transfiro a ardência para um outro corpo. E ele derrete. Pequenos animais aliviam isso por alguns minutos. Pessoas aliviam por um dia. Só essa substância aí me alivia alguns meses. Isso não é vida. - falou a mulher disforme.
- Agora está tudo bem, Lalesca. Agora consegui um estoque para umas cinco aplicações.
E ele derramou um pouco do conteúdo azul fosforescente e espalhou pelo corpo de massinha dela.
- Vai ficar tudo bem, mana. - suspirou Lando.
Enquanto isso ela vai tomando uma forma mais humana, mas ainda indefinida.
- Lando, você matou mais gente para conseguir isso?
- Lógico que matei. Eles não ligam pra gente. Mataram nossos pais, nos caçam como animais, e nós éramos apenas crianças. Merecem morrer.
- Mas Lando, em todo lugar há pessoas ruins. Também existem pessoas boas que vão te ajudar se der uma chance.
- E existem. Karnov e Jamiel. Foram eles que me ajudaram a trazer o mutagênico. Devo uma pra eles.
- Pronto, o mutagênico terminou de estabilizar você. Se levanta e venha comigo.
E Lalesca se levantou. Era uma mulher extremamente linda com os olhos púrpura.
Enquanto isso, pensava ela - ele sente prazer em matar pessoas. Não me sinto bem com isso. Mas ele se importa comigo e me ajuda. E é meu irmão. Não sei o que faria sem ele. E que moral tenho pra falar dele? Já matei cinco pessoas por acidente com a ardência corrosiva. Ele me protege. Mas ainda acho que tem um jeito melhor dele resolver as coisas. Mas ainda acho que a mente dele muito perturbada, e acredito que sou a âncora que ainda segura ele aqui no mundo real.
- É tão bom me levantar sem a dor. Depois dessa semana maldita, estou com saudades de um sorvete. - e a mão de Lalesca tomou a forma e cor de um sorvete de uva. - e depois vamos passear - ora, apesar de tudo, ela é uma adolescente de 17 anos.
- Vamos ao covil. Tem sorvete e outros gelatinosos. Se prepara pra conhecer Rafik. Ele sabe moldar uns personagens que farão você vomitar. He he he. - falou Lando com satisfação.
E no caminho, uma criança alada brincava tentando voar. Ao tentar levantar vôo, ela bate a asa em uma pedra, que mergulha no corpo de Lalesca. Nisso, Lando viu, e olha para o garoto, aponta dois dedos para ele, estica um para cada lado da cabeça dele e crava os dois numa parede atrás.
- Vaza daqui, moleque. Ou vai saber o que é dor.
E o garoto assustado e chorando, sai correndo. Lalesca vai atrás e estica o corpo como uma parede na frente do menino.
- Calma, ele não fez por mal. Só está nervoso com uma coisa que aconteceu. - e Lalesca moldou com a mão, um personagem de desenho animado. E balançando ele de um lado para outro, disse - E POR HOJE É SÓ, PESSOAL.
Nisso o garoto começou a rir e foi embora mais tranquilo.
E continuando, se virou para Lando e disse.
- O que falei pra você sobre crianças?
- Mas ela te feriu.
- E daí? Ela não teve culpa.
Lalesca era uma gelatinosa ativa. Exceto por sua mutação secundária, a ardência corrosiva. Ela inclusive se culpa todos os dias por ter matado pessoas com seu toque. O que despertou a hostilidade de muitos e exacerbou a o ódio de seu irmão contra pessoas. Também se sente culpada pelas pessoas que ele matou. Se sente na obrigação de dissuadi-lo disso.


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